sábado, 18 de fevereiro de 2012

Talvez você se lembre

Um belo texto principalmente para quem nasceu antes de 1980








SAUDADE…

     Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo.

     E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um. – Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre. E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável! A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre… Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre.

Retratos na parede, flores na mesinha de centro… casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia: – Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa. Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite… tudo sobre a mesa.






Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança… Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam…. era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade…

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, t ambém ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos… até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail… Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa: – Vamos marcar uma saída!… – ninguém quer entrar mais. Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores. Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite…. Que saudade do compadre e da comadre!


José Antônio Oliveira de Resende (Prof. da Un. Fed. de São João del-Rei)

Um comentário:

  1. AH!!! aquele tempo querido que não volta nunca mais....como escreveu Zacarias mourão em seu belo poema...pé de cedro. Meu avô tinha um vizinho de fazenda la em minas gerais. E que estorias meu avô contava dele...a mais fantastica delas eu nunca esqueci apesar de ja se passar quase meio seculo...era o seguinte! seu jeromim vizinho do vovô tinha 20 filhos, 10 homens e 10 mulheres! Quando chegava alguem na sua casa as 20 crianças, sim ja´ que a maioria delas eram gemeas, chegou a vir 4 de um som vez...então faziam uma fila indiana para tomar benção dos mais velhos e como vai para os jovens. Quando terminava a fila todos admirados perguntavam; seu jeromim quantos filhos o sr tem mesmo? ele dizia numa fala bem mansa...são dez...se quem perguntava não tivesse nenhum a reação passava, mas quando triplicavam...quantos mesmos? seu jeromim completava na mais calma possivel...casais!!!!
    É! a educação era outra! os jovens tinha uma formação de gente civilizada, hoje os jovens são rebeldes e não respeitam ninguem e nada. A unica coisa que os jovens de hoje presta continencia são as drogas!!!!!!!!! è muita burrice num cerebro tão pequeno...que o Eterno yahweh compadeça dessa juventude desmiolada e desnorteada, pelo virus mais terrivel que já surgiu no planeta terra...a babaquice...shalom em yahshuah o unico nome que salva!!!

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