terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Raul Seixas e a Bíblia

É fato conhecido que um dos pioneiros do rock nacional, que fez muito sucesso há cerca de três décadas, foi o controvertido Raul Seixas. Numa mistura de protesto e busca por respostas para a vida, o conhecido “Raulzito” causou a mais diversificada reação em todo o país. Pouca gente sabe que o falecido roqueiro conheceu o Evangelho de Cristo.



Chegou até mesmo a ter um filho com sua primeira companheira, que era filha de um missionário norte-americano. Todavia, a perspectiva panteísta e agnóstica de Raul Seixas mostrou que o famoso cantor não abriu o coração para a mensagem do Evangelho. Sua morte não deixa dúvidas sobre isso!


Por incrível que pareça, se Raul Seixas não se deixou influenciar pelas boas novas de Jesus, parece-me que suas ideias estão cada vez mais presentes na realidade evangélica contemporânea. Será possível que estamos caminhando para uma “teologia do Raul Seixas”? Será que teremos um evangelho “maluco beleza”? O amigo leitor pode dar sua própria opinião.

Enquanto as Escrituras deixam claro que existe apenas um Deus verdadeiro, que está acima de sua criação (Is 44.6; Rm 1.18-21), a perspectiva panteísta aparece expressa na música “Gita”, de Raul. Ele afirmava: “Eu sou a luz das estrelas / A mãe, o pai e o avô / O filho que ainda não veio / O início, o fim e o meio.” Este enfoque tenta tirar de Deus a glória que só Ele tem e merece. De modo geral, o panteísmo que deifica a natureza acaba definindo como categoria suprema o fluxo do movimento. Heráclito sorriria no túmulo. Tais idéias, muito presentes nos filmes norte-americanos mais populares, parecem emergir do conceito de que Deus é uma energia, “um fluir” (unção?). Em certos redutos evangélicos já se pode perceber que Deus se tornou “um poder manipulável” por “comandos determinadores”. Além disso, o enfoque da teologia do processo, que já nos influencia com todos os seus desdobramentos específicos, também diminui Deus e o coloca sob o domínio do “fluxo do tempo”, sugerindo que Ele é apenas nosso sócio na construção da história.


Metamorfose ambulante

A idéia da supremacia do fluxo do tempo desemboca na rejeição de outras categorias fixas. A única categoria é o próprio tempo, o novo senhor absoluto. Com esse pressuposto, já não podemos ter teologia e ética definidas e claras. Embora a Bíblia seja um livro de orientações muito cristalinas sobre Deus, a salvação e o propósito da vida (2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.19-21), para muitos evangélicos, a teologia “maluco beleza” é preferível. Como diria Raul: “Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” Se uma opinião for antiga, deve ser rejeitada! Há uma crise doutrinária e teológica em boa parte do meio evangélico. Muitas pessoas adotam hoje idéias liberais, místicas e extremistas sem a devida avaliação. Nesse caso, não importa sua fundamentação teológica, histórica e lógica. Viva a metamorfose!

Tal sensação de indefinição, presente no pensamento do roqueiro tupiniquim, ajudou a formar seu perfil estranho, controvertido e até mesmo bizarro. Não é que um grupo significativo de evangélicos também já tem se aproximado do esdrúxulo?! Há um certo desprezo pela reflexão, pela teologia, e o crescimento de práticas risíveis e simplesmente inacreditáveis. Será que podemos ouvir o eco da música de Raul ao contemplar grande parte do chamado meio evangélico atual? Será que estamos diante do “Contemplando a minha maluquez / Misturada com minha lucidez”? Até onde vai a nossa “maluquez”? Será que voltaremos à lucidez? Será que muitas reuniões religiosas de hoje estão nos deixando, “com certeza, maluco beleza”? Espero que essa sensação seja um exagero! Todavia, temo que não seja!

Não faz tanto tempo assim, os cristãos evangélicos entendiam que um culto de adoração a Deus tinha, de fato, Deus como o centro do culto. Muitos cânticos tinham letra elaborada, teologia saudável e enfatizavam os atributos e os atos de Deus. No entanto, em algumas reuniões dominicais de hoje, temo que o foco esteja sendo mudado. Novas canções falam de um amor quase romântico e indefinido, divertem a massa, exaltam unção, montanhas, Jerusalém, guerra etc. O conceito de dedicar o domingo para uma diversão sem propósito e finalidade bíblica é manifesta na teologia do Raul Seixas. Como ele mesmo dizia: “Eu devia estar contente pelo Senhor ter me concedido o domingo para ir ao jardim zoológico dar pipocas aos macacos”. Será que já podemos observar “uma fauna evangélica com suas macaquices litúrgicas”? Tomara que não! Espero que tudo que escrevo não passe de uma análise exagerada! Todavia, temo que não.

Como todo enfoque teológico, o pensamento do “teólogo-músico pós-ortodoxo” nacional, também possui as suas decorrências de ordem prática. Não há como fugir da realidade. A forma de pensar e ver o mundo influencia e determina a vida prática de qualquer pessoa. A verdade é que se adotarmos uma base panteísta, um pensamento relativista, uma ética indefinida e práticas místicas emocionalistas sem conteúdo, não chegaremos a lugar nenhum. E não é que o “grande teólogo-roqueiro” já sabia disso! Quem pode lembrar de sua “perspectiva teleológica” que determinou seu trágico fim? “Este caminho que eu mesmo escolhi / É tão fácil seguir/ Por não ter onde ir.”

Se a igreja evangélica brasileira desvalorizar a doutrina bíblica, desprezar a teologia, deixar de lado a ética e afundar-se no misticismo e nas novidades ideológicas frágeis, logo ela descobrirá que esse é um caminho “tão fácil de seguir”. O grande problema é que no final das contas “não teremos para onde ir”.

Mais do que nunca, precisamos desesperadamente voltar nossa atenção para as Escrituras Sagradas, com o verdadeiro desejo de obedecer a Deus e à sua verdade. Que Deus nos abençoe.



Luiz Sayão.

4 comentários:

  1. Infelizmente se agente não vigiar, lê a biblia e orar... cairemos neste mundo tenebroso!!!

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  2. por isso e que sempre digo "ser cristão nao e fácil"- Quem diz ser fácil,ainda nao aprendeu!.
    Rubcler

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  3. infelizmente a matéria é incompleta, visto que a música Gita é baseada no livro bagavad gita da religiao induísta, portanto trata-se de um ponto de vista religioso e nao do próprio autor. Raul seixas era um visionário e tinha uma vertente religiosa sim.

    segura minha mao, quando ela fraquejar e nao deixe a solidao me asssustar...

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  4. João Batista Costa5 de junho de 2013 às 00:14

    É curioso que sempre encontram alguma coisa na música, no cantor, nos comerciais, etc. Hoje, parece-me, que há os plantonistas sempre muitos atentos para observarem até o inobservável. Como é que se diz mesmo...? subliminar, eu creio, mas parece ser o termo correto. Tanta crendice, tanta babaquice, que dá até nojo de se ver. E olha que eu possuo uma certa cultura. frequentei a Universal do Reino de Deus, a Assembléia de Deus e por fim, a Congregação Cristã no Brasil (igreja de meus familiares). Nesta última, parecia-me que finalmente minha busca estava acabada porque, em comparação com todas as outras, era a que mais correspondia aos meus anseios. Todavia, depois de um certo tempo comecei a fazer certos questionamentos sobre certas observações no que concernem ao tipo de pregação e no posicionamento dos fiéis acerca da própria igreja. Pareceu-me que a igreja exerce um poderoso fascínio sobre os fiéis a ponto fazê-los acreditar que fazem parte de um pequeno mas seleto grupo de "privilegiados" ou "escolhidos" por Deus para a salvação, a vida eterna! Aliás, para os crentes, pessoas boníssimas como Madre Tereza de Calcutá, Xico Xavier, etc, estão fadados ao sofrimento eterno simplesmente porque não professaram a mesma fé que eles e consequentemente não foram batizados de acordo com o batismo realizado na igreja. Com relação ao Xico Xavier então, este, coitado, sem sombra de dúvida vai torrar eternamente no fogo porque era espírita. Após esta igreja, passei a ler as revistas da Seicho-No-Ie e, confesso, o tipo de dissertação ou de entendimento em exposição por parte dos preletores sobre o ser-humano (criatura) e Deus criador), causou-me um certo alívio, visto que o tema é bastante razoável. Os evangelistas e/ou propagadores da mesma natureza de fé, discordarão, visto que, como a maioria dos "sábios entendidos da palavra de Deus" encaram a filosofia budista como "obra do diabo" para distorcer a verdade e fazer permanecer na mentira "os escolhidos". Ora, se o próprio Deus disse: "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança", certamente fez-nos perfeitos. Inclusive com a capacidade de "atirar montes ao mar", se crer nisso, evidentemente. Não foi Cristo quem disse: " tudo o que pedirdes ao meu pai em meu nome, TENDO FÉ, obtereis". Cristo disse: "TUDO" e não "quase tudo". E olha que, nesta frase, não fez aptidão de pessoa, raça ou credo! Não mencionou que a pessoa deveria pertencer a uma determinada religião ou seita! Que deveria estar caminhando pela senda da justiça, etc, etc. Cristo disse muitas coisas. Disse inclusive que aquele que conhecesse a verdade seria liberto. Então por que existe tanta gente aprisionada? Inclusive evangélicos e crentes? Quantos se esforçam para manterem uma aparência de dignidade quando na verdade sufocam nas entranhas criaturas horríveis (não quero dizer demônios)que teimam em sair destes redutos para contemplarem somente de vez em quando as luzes exteriores? Ó Deus, como é terrível sufocar estes prazeres abomináveis! ter conhecimento de si, da própria estrutura emocional e psicológica, ousar fazer questionamentos por acaso é pecado? Ora, se eu atrofio meu cérebro porque é perigoso pensar, raciocionar além do permitido, não estarei me tornando um alienado? Se Deus me deu essa capacidade infinita, de verdadeiramente alçar vôo nas asas da imaginação, por que não fazê-lo? Eu sei que tudo posso naquele que me fortalece. Eu sei que embora eu possa tudo, nem tudo me é lícito. Mas, neste contesto de idéias, Raul Seixas, em suas letras que compunham suas canções, apenas engrandecia Deus, tornando o Criador fonte de sua inspiração. Raul era, ao contrário de muitos que carregam um logotipo de cristão, na busca de suas verdades, um verdadeiro adorador de Deus. Raul entendia que possuia este dom maravilhoso de criar e cantar porque Deus o fizera assim. Antes de julgar, atentai para as palavras de Cristo: "Eu a ninguém julgo".

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